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terça-feira, 5 de março de 2013

Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos.



CAPÍTULO I


DOS ESPÍRITOS

1. Origem e natureza dos Espíritos. - 2. Mundo normal primitivo. - 3. Forma e ubiqüidade
dos Espíritos. - 4. Perispírito. - 5. Diferentes ordens de Espíritos. - 6. Escala espírita. - 7.
Progresso dos Espíritos. - 8. Anjos e demônios.


Origem e natureza dos Espíritos


76. Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o
Universo, fora do mundo material.”
NOTA - A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos
seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo.
77. Os Espíritos são seres distintos da Divindade, ou serão simples emanações ou
porções desta e, por isto, denominados filhos de Deus?
“Meu Deus! São obra de Deus, exatamente qual a máquina o é do homem que a
fabrica. A máquina é obra do homem, não é o próprio homem. Sabes que, quando faz
alguma coisa bela, útil, o homem lhe chama sua filha, criação sua. Pois bem! O mesmo se dá com relação a Deus: somos Seus filhos, pois que somos obra Sua.”
78. Os Espíritos tiveram princípio, ou existem, como Deus, de toda a eternidade?
“Se não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, quando, ao invés, são criação
Sua e se acham submetidos à Sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, é
incontestável. Quanto, porém, ao modo porque nos criou e em que momento o fez, nada
sabemos. Podes dizer que não tivemos princípio, se quiseres com isso significar que, sendo
eterno, Deus há de ter sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de
nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério.”
79. Pois que há dois elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o
elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente,
como os corpos inertes o são do elemento material?
“Evidentemente. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como
os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo por que essa
formação se operou é que são desconhecidos.”
80. A criação dos Espíritos é permanente, ou só se deu na origem dos tempos?
“É permanente. Quer dizer: Deus jamais deixou de criar.”
81. Os Espíritos se formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?
“Deus os cria, como a todas as outras criaturas, pela Sua vontade. Mas, repito ainda
uma vez, a origem deles é mistério.”
82. Será certo dizer-se que os Espíritos são imateriais?
“Como se pode definir uma coisa, quando faltam termos de comparação e com uma
linguagem deficiente? Pode um cego de nascença definir a luz? Imaterial não é bem o
termo; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, sendo uma criação, o
Espírito há de ser alguma coisa. É a matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós
outros, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos.”
Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo
o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para
exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo
ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Não compreende as idéias que só lhe poderiam
ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação à
essência dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações
sempre imperfeitas, ou por um esforço da imaginação.
83. Os Espíritos têm fim? Compreende-se que seja eterno o princípio donde eles
emanam, mas o que perguntamos é se suas individualidades têm um termo e se, em dado
tempo, mais ou menos longo, o elemento de que são formados não se dissemina e volta à
massa donde saiu, como sucede com os corpos materiais. É difícil de conceber-se que uma
coisa que teve começo possa não ter fim.
“Há muitas coisas que não compreendeis, porque tendes limitada a inteligência.
Isso, porém, não é razão para que as repilais. O filho não compreende tudo o que a seu pai é
compreensível, nem o ignorante tudo o que o sábio apreende. Dizemos que a existência dos
Espíritos não tem fim. É tudo o que podemos, por agora, dizer.”


O livro dos Espíritos. Allan Kardec

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