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domingo, 23 de dezembro de 2012

CENSO 2010: AUMENTA O NUMERO DE ESPÍRITAS NO BRASIL.

Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil. A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. A pesquisa indica também o aumento do total de espíritas, dos que se declararam sem religião, ainda que em ritmo inferior ao da década anterior, e do conjunto pertencente às outras religiosidades. Os dados de cor, sexo, faixa etária e grau de instrução revelam que os católicos romanos e o grupo dos sem religião são os que apresentaram percentagens mais elevadas de pessoas do sexo masculino. Os espíritas apresentaram os mais elevados indicadores de educação e de rendimentos.
8,0% dos brasileiros se declararam sem religião em 2010
Entre os espíritas, que passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2,0% em 2010 (3,8 milhões), o aumento mais expressivo foi observado no Sudeste, cuja proporção passou de 2,0% para 3,1% entre 2000 e 2010, um aumento de mais de 1 milhão de pessoas (de 1,4 milhão em 2000 para 2,5 milhões em 2010). O estado com maior proporção de espíritas era o Rio de Janeiro (4,0%), seguido de São Paulo (3,3%), Minas Gerais (2,1%) e Espírito Santo (1,0%).
População espírita tem os melhores indicadores de educação
Os resultados do Censo 2010 indicam importante diferença dos espíritas para os demais grupos religiosos no que se refere ao nível de instrução. Este grupo religioso possui a maior proporção de pessoas com nível superior completo (31,5%) e as menores percentagens de indivíduos sem instrução (1,8%) e com ensino fundamental incompleto (15,0%).
O Censo 2010 revelou, ainda, que, ao longo de cinco décadas, a razão de sexo passou de 99,8 (1960) homens para cada 100 mulheres para 96 homens. O resultado decorre da superioridade da mortalidade masculina em relação à feminina.
O Brasil não é apenas o maior país católico do mundo. É também a nação com maior número de espíritas. E, agora, tornou-se também o principal pólo difusor da religião fundada e sistematizada pelo francês Allan Kardec.
Quais as características desse espiritismo que o Brasil professa e exporta ? Esqueça os copos que se movimentam sozinhos sobre a mesa branca, as operações com canivete e sem anestesia do médium Zé Arigó e as sessões de exorcismo coletivo transmitidas pelo rádio. Isso tudo ainda existe, mas o crescimento e a exportação da doutrina se devem principalmente a seu lado menos místico e mais racional.
Esse "novo espiritismo" preserva os pilares básicos da religião: a imortalidade do espírito, sua reencarnação e evolução, além da possibilidade de comunicação entre vivos e mortos. Mas se baseia muito mais em leituras e na introspecção que em rituais ou sessões que invocam supostas forças do além.
São incentivadas também as duas práticas mais fortes da doutrina: a caridade e a tolerância religiosa. O espiritismo vem crescendo no Brasil, principalmente entre jovens de classe média. No site de relacionamentos Orkut, já existem 366 comunidades sobre "espiritismo" e outras 808 quando se busca a palavra-chave "espírita".

A maior delas se chama simplesmente Espiritismo. tem 183.546 membros. Lá, as discussões variam desde assuntos simples, como o lançamento de um livro, até questões teóricas mais elaboradas, como a relação entre espíritos e Física Quântica. Curiosamente, a palavra "católicismo" registra apenas 34 comunidades, e "católico" 421. A Renda dos Espíritas é 150% superior à média nacional, e 52% deles ganha acima de 5 salários mínimos. Entre os espíritas, 77% têm entre oito e 15 anos de escolaridade, dez anos em média a mais que os católicos.
A principal característica da cultura espírita é que ela ultrapassa os adeptos da doutrina e até aqueles que têm o espiritismo como segunda religião. Para além dos livros que fazem sucesso com os leitores de todas as crenças, os programas de televisão que tratam do assunto sempre conseguem uma larga audiência.
O que explica a adesão crescente da classe média ao espiritismo ?
Quem responde é o sociólogo Flávio Pierucci, na Universidade de São Paulo. autor de A Realidade Social das Religiões no Brasil: "O espiritismo é uma religião confortável. Ela suaviza o drama da morte e dá respostas lógicas ao que acontece de bom ou de ruim.
Sem falar que podemos levar créditos ou débitos para outras vidas". Piericci considera que há três razões pelas quais "o novo espiritismo" atrai tantos adeptos entre a classe média:
1. A Doutrina Espírita se baseia num conjunto de ideias muito bem sistematizado e, portanto, passível de aceitação nacional.
2. Ela é flexível e acolhe gente de todas as religiões.
3. A forma original da religião fundada por Kardec de lidar com a questão da morte.
Para entender cada um desses motivos, é preciso fazer um breve histórico da religião espírita. As ideias que alicerçam o espiritismo foram sistematizadas pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon em 1804. Ele passaria para a história sob o pseudônimo de Allan Kardec . Nascido em uma família de magistrados católicos, ele decidiu seguir também o caminho da educação e sempre lutou pela democratização do ensino público na França. Em 1854, kardec se interessou pelo fenômeno então conhecido como "mesa giratória". Nos salões elegantes, após os saraus, gente da alta sociedade costumava se sentar em torno dessas mesas para, segundo acreditavam, dialogar com os espíritos. Utilizando recursos supostamente mediúnicos dos presentes, as entidades desencarnadas se manifestariam. Segundo os historiadores, o fenômeno foi a coqueluche da sociedade francesa de 1853 a 1855. Os eventos das mesas giratórias ganharam dezenas de reportagens dos jornais europeus.
Kardec mergulhou nesse universo por três anos, até estruturar uma doutrina que, segundo ele, unia os conhecimentos científico, filosófico e religioso. Ele escreveu sua obra básica, O Livro dos Espíritos, em 1857. O livro é resultado dos diálogos que Kardec estabeleceu com os espíritos desencarnados nas diversas reuniões mediúnicas de que participou. Kardec não dizia ser médium. Afirmava valer-se de um método científico para conferir a veracidade dos diálogos. Dizia ouvir a voz de diferentes espíritos por meio de diferentes médiuns para cotejar as versões. A obra se estrutura em 1.019 tópicos, no estilo pergunta e resposta. O Livro dos Espíritos serviu de base para mais quatro obras de Kardec: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Como há outras religiões espiritualistas - que creêm na vida além da matéria -, criou-se a expressão "Kardecismo" para diferenciar a doutrina de Kardec das outras. O termo, porém, é considerado errôneo pela Federação Espírita Brasileira (FEB). Chamar o espiritismo de kardecismo é considerado uma redundância. Kardec morreu em 1869, aos 64 anos, e seus livros estão para o espiritismo como o Novo Testamento para os cristãos, a Torá para os judeus e o Alcorão para os mulçumanos.


Quando Kardec codificou sua doutrina, deu-lhe um revestimento científico. É essa roupagem racional o primeiro motivo para o sucesso do espiritismo no mundo moderno. "Razão a fé não estão em polos opostos. Cremos em algo lógico, não místico
Ao contrário do que se possa imaginar, quem entra num centro espírita não vai encontrar médiuns se contorcendo ou sessões de exorcismo coletivo. Centros espíritas são, mais que tudo, espaços de leitura, discussão e prece. Nas reuniões dos espíritas, normalmente há primeiro uma leitura de um dos livros de Kardec. Depois uma palestra em que o participante do centro apresenta suas interpretações sobre algum ponto da doutrina. Por fim, há o passe, momento em que o médium (não necessariamente incorporado) troca energias com os presentes. Ao fundo, oração coletiva e, em muitos casos, luz mais fraca.
Raul Teixeira é considerado pelos espíritas um dos maiores médiuns brasileiros. "Quem se degladia com outras religiões mostra falta de maturidade na fé. Quem não crê o suficiente tenta convencer os outros para convencer a si próprio", diz.
A segunda razão para o crescimento do espiritismo é a flexibilidade da doutrina. Avessos a fundamentalismos, hierarquias, sacerdotes, altares e ídolos, os espíritas acolhem pessoas de todas as religiões.
Não há exigências na atitude, no vestuário ou cobrança financeira. Adeptos de outras religiões costumam se envolver com o espiritismo sem necessariamente abandonar as crenças originais. "Somos avessos ao fundamentalismo. Dai ser tão importante o estudo e a leitura", afirma o carioca Raul Teixeira, considerado pela Federação Espírita Brasileira um dos maiores médiuns do país. "Quem se de galdia com outras religiões mostra falta de maturidade na fé. Quem não crê o suficiente tenta convencer os outros para convencer a si mesmo."
Uma pesquisa realizada pela Federação Espírita Brasileira em São Paulo e no Rio Grande do Sul mostra que apenas um em cada quatro frequentadores de centros se considera oficialmente espírita. "Não temos dogmas, santos, hierarquia.
A terceira e principal razão para que o espiritismo tenha tantos adeptos é a maneira como a religião fundada por Kardec lida com a questão da morte, ela não é o fim de tudo. É possível ter outras vidas e nelas resolver assuntos pendentes de encarnações passadas. É algo semelhante ao que os budistas costumam chamar de carma, uma espécie de "preço" para nas diversas vidas rumo à evolução espiritual. Para os cristãos, a vida é uma chance única: resolva tudo agora e salvará sua alma - ou arderá no inferno. O Budismo e o hinduísmo admitem a reencarnação. Só o espiritismo, no entanto, diz possibilitar a comunicação entre "encarnados" e "desencarnados". Segundo os espíritas, é possível trocar mensagens orais ou escritas por meio dos médiuns - pessoas que funcionam como antenas entre os dois mundos.
A doutrina de Kardec chegou ao Brasil logo depois de ter sido divulgada no Livro dos Espíritos, por meio de um grupo de franceses que moravam no Rio, então capital do Império. Foi rapidamente absorvida por uma elite. Com o tempo, começaram as primeiras repercussões de supostos eventos mediúnicos e tratamentos espirituais. A partir de 1890, um movimento liderado por médicos, apoiados por juristas, resultou em perseguição ao espiritismo. "De certa forma, naquele momento a doutrina concorria com a medicina", diz a antropóloga Sandra Stohl, autora do livro Espiritismo à Brasileira, baseado em sua tese na Universidade de São Paulo.
Foi o médico Adolfo Bezerra de Menezes, na primeira metade do século XX, quem deslocou o foco da doutrina da ciência para a caridade. Essa ênfase se tornou uma característica marcante do espiritismo brasileiro. Estima-se que mais de seis milhões de pessoas no país recebam ajuda de alguma entidade espírita.

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