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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Paradoxo Espírita: a causa primária


Por Leonardo Montes

Quando se lê em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, sobre Deus, muita gente nem suspeita que várias respostas dos espíritos somam-se a diversos argumentos cosmológicos do passado.

Quando se diz, por exemplo, na questão 1 que Deus é a “Inteligência Suprema”, faz-se referência aos pensamentos ontológicos de Anselmo de Cantuária(1):
“Portanto, Senhor, tu és não somente aquilo de que não se pode pensar nada de maior, mas tu és muito maior de quanto possa ser pensado”.
Quando se diz “causa primária de todas as coisas”, faz-se referência ao argumento cosmológico Kalam:
“Todo ser que começa a existir tem uma causa para seu início; o mundo é um ser que começou a existir; portanto, ele possui uma causa para seu início”(2).
Em diversas outras questões esse processo se repete, de modo que a visão “teológica espírita” termina por herdar uma série de argumentos cosmológicos construídos ao longo do tempo.

Contudo, para a maioria dos espíritas, o argumento da causalidade (Kalam) é o mais forte. Os próprios espíritos tocaram nele, quando Kardec questionou o surgimento “da formação primária da matéria” pelo acaso:
“Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.” (O.L.E, questão 08).
Como ilustração do dito acima, vou citar um pequeno trecho de um texto escrito por Gerson Simões para o jornal “Extra”:
“Com relação ser Ele a causa de tudo o que há no Universo, o melhor argumento é o da própria ciência, ou seja, a de que “não há efeito sem causa”. Ora procurando a causa de tudo o que existe no Universo, e que não é obra do homem, concluiremos logicamente de que se trata de uma obra de Deus. Vale aqui lembrar que Voltaire, um vulto notável do pensamento francês, afirmou com seu raciocínio prático sobre a existência do Criador: “O Universo me espanta e não posso imaginar que este relógio exista e não tenha um relojoeiro”(3).
Sem dúvida podemos nos admirar com a complexidade do Universo e da Vida. É espantoso quando, às vezes, tomando banho, simplesmente paro e observo a água escorrendo pelos meus dedos; a forma, tamanho, cor e toda a complexidade envolvente em atos tão simples como o de abrir e fechar a mão.

Contudo, tal argumentação possui uma fraqueza: Se a causa do Universo é Deus, qual é a causa de Deus? – Lembre-se: o princípio cosmológico da causalidade (Kalam) pressupõe que “Tudo que começa a existir tem uma causa”.

Kardec tocou neste assunto na questão 14 de O Livro dos Espíritos, mas a resposta foi ríspida e pouco satisfatória:

“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além.Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseqüentemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável.”
Se nos contentamos com a explicação de que a existência do Universo se deve a Deus, porque não aplicamos o mesmo conceito quando nos referimos a Deus? Isto é, se o argumento cosmológico é válido em sua primeira premissa (tudo que começa a existir tem uma causa), porque nos contentamos em pensar que Deus é a única “causa” do universo que não precisa de uma causa anterior?


Este assunto é de muito interesse aos novatos no Espiritismo. Quase sempre surge como uma das primeiras dúvidas, nessa forma: Quem criou Deus?

Contudo, já doutrinados, e preparando-se para doutrinar, os espíritas mais velhos quase sempre riem desse questionamento citando a resposta à questão 14 ou alguma passagem de Chico Xavier, como a que diz:

“Vamos nos contentar em chegar até o filho (Jesus), porque o Pai (Deus) está muito distante”.Frase freqüentemente repetida nos centros espíritas quando o assunto é a origem de Deus.

Vi diversas vezes pessoas serem fraternalmente ridicularizadas e desestimuladas a fazer este simples questionamento que fez e faz muitos pensadores antigos e novos perder noites de sono tentando desvendar esse mistério.

O ponto principal, a não perder de vista, é que parece haver um peso e duas medidas na análise espírita desta questão:

- Julgamos válidos os argumentos cosmológicos para explicar a “origem das coisas”; mas, não, para explicar Deus. O que me soa como um paradoxo causal.

Contudo, o meu objetivo ao escrever esse texto não é resolver esta questão, mas a de perguntar:

Deus é a explicação para o Universo; qual é a explicação para Deus? – Por que o argumento da causalidade vale para o Universo e, por conseqüência, para “todas as coisas”, mas não vale para Deus?

Não são duas medidas para um mesmo peso?

Referências:

1 – Disponível, em: http://www.filosofante.com.br/?p=693 acesso: 09/07/12
2 – Disponível, em: http://materialismofilosofia.blogspot.com.br/2012/04/giuliano-thomazini-casagrande-o.html. Acesso: 09/07/12
3 – Disponível, em: http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/gerson-monteiro/o-que-deus-na-visao-espirita-366326.html. Acesso: 09/07/12

Clique aqui para ler o debate no Fórum Espírita: http://www.forumespirita.net/fe/artigos-espiritas/paradoxo-espirita-a-causa-primeira/#ixzz20GBI2639

Fonte: http://leonardomontes.wordpress.com/artigos/paradoxo-espirita-a-causa-primaria/

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